Meu cantinho

Criei um cantinho para postar os meus primeiros vôos, na inebriante tarefa que é escrever. Aqui tem os meus pensamentos, as minhas revoltas, e tudo o que vai pelo peito de uma mulher que é uma eterna apaixonada.
Coisas de mulher com alma sonhadora.
Mas sem pretensão de ser escritora.
Beijos e beijos

Tania

quarta-feira, 17 de junho de 2009

- Um dia para pensar...


Um dia para pensar...

Desde quinta-feira, estava reclusa no meu paraíso que com o advento do Festival de Verão passou em questão de horas de Paraíso para Purgatório. Minha casa como sempre cheia de rapazes e moças com a testosterona em alta a borbulhar, a curtir de dia e de noite o pior do lixo cultural auditivel. Eu já contava os minutos para voltar para minha casa, o meu quarto, os meus livros, não ter que dividir meu computador com ninguém, e ter o meu silencio tão importante, para a saúde mental.
Já em Aracaju, com meu vulcão interno querendo entrar em atividade, a minha amiga que gosta de cuidar da cabeça das pessoas me lembrou: ¨ Ei, amanhã a gente tem a roda da leitura, você vai?¨. Pronto era tudo o que eu precisava ouvir. Puxa vida, isso era um presente dos Deuses, depois de tanta musica ruim, mesclada por conversas bobas e fúteis, o entra e sai de gente em casa, onde você não tem o direito de dormir, somente cochila, e comidas e bebidas sendo consumidas por todo lado, eu teria algumas horas me dando o luxo de conversar sobre literatura, com pessoas que eu admiro e me espelho.
Estava tão ansiosa que chegasse a terça-feira que olhava para o relógio na mesa de cabeceira que marcava meia-noite, e eu não conseguia dormir. Doida que o dia amanhecesse para eu levantar, tomar um bom banho, café com leite quente comer alguns biscoitos com geléia, e ir para a minha Roda Mensal de Leitura.
No caminho eu já imaginava tentando adivinhar qual seria o autor a ser trabalhado. Séria o delicioso Guimarães Rosa? Será que teria poema de quem? Quem estaria por lá? Com certeza aquela minha amiga que cuida da cabeça das pessoas, estaria, e aquela outra que gosta de desenhar bonecas, pintar o 7 o 8, também estaria. Mas aquele professor que não sabe sorrir? E aquela professora em miniatura de mulher? Não teria graça sem eles. As cabeças que são os nortes da Roda não podiam ficar fora. Quem me instigaria a pensar? A falar, a me contrapor as opiniões, olhando por outros lados? Eu sou aprendiz, mas aprendi com eles a pensar, a ver o verso, ou sei lá, tive coragem de começar a pensar e falar.
As nove em ponto, com todo o calor que Aracaju está fazendo, lá estava eu. Procurei um rosto familiar, e não achei. Somente a pequena Professora, que me recebeu com um belo sorriso. Acomodei-me em uma poltrona na primeira fila como sempre fiz, e tive a ousadia de perguntar pelo Professor que não sabe sorrir. Estava com saudades da cara séria, os olhos que não olham nos meus olhos, mas principalmente da cabeça cheia de certezas e duvidas que ele nos deixa compartilhar em seus contos.
O escritor que seria trabalhado era um contemporâneo, estava na moda, seria o Rubens Fonseca, que com um só golpe certeiro me golpeou no estomago. Epa! Eu estava cheia de duvidas. Estaria eu em uma linha de raciocínio coerente? Ele estaria me mostrando que o homem, ser humano, pode virar animal selvagem pronto para ferir e matar, sem muitas razões ou com todas as razões do mundo dele, por ser só na selva da modernidade que nos submetemos todos os dias, em uma tentativa de poder silencioso e solitário.
Procurei o rosto do professor que não sabe sorrir, para sentir a contração do rosto dele, ele não havia chegado. Procurei a minha amiga que é amiga de Freud, também não havia chegado, nem minha amiga, poeta-pintora também havia chegado. A leitura coletiva já estava para começar, e eu me senti sozinha com Rubens na minha frente me mostrando o quanto de bicho que temos dentro da gente, pronto para botarmos para fora, que a cultura impregnada dentro da alma não deixa sair. Será que eu estava com o olho critico vendo o que devia ser visto. Como aquelas pessoas que eu não conhecia iriam sentir? Eu precisava de socorro, a minha cabeça parecia está mais pirada do que normalmente. Deveria eu falar de bichos? As pessoas entenderiam o que eu queria dizer? A pequena Professora, eu conhecia como professora. Não conheço nada que ela tenha escrito que seja o eu dela. Qual seria o alcance dela?
Rubens finalmente foi dissecado, encontramos tudo que queríamos, e eu me senti como que aliviada. O soco, não foi só em mim.
Que bom poder me sentir com saudades, me sentir em duvidas, me questionar, duvidar de mim mesma, e beber um pouco de Rubens.
Saímos em três para almoçar. Não importa o que eu comi, até agora eu sofria com azia. O que importa e que continuamos a beber conhecimento enquanto comíamos. Começamos a descobrir, o quanto todas nos somos parecidas, solitárias dentro dos nossos tumultuados mundos, com sede de dividirmos, de aprendermos, que após o almoço será adiado para o próximo mês, quando de novo estaremos juntas, de frente com quem? Não sei!
Mas com certeza, será gratificante, beber cultura pelo menos uma vez por mês.

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