Meu cantinho

Criei um cantinho para postar os meus primeiros vôos, na inebriante tarefa que é escrever. Aqui tem os meus pensamentos, as minhas revoltas, e tudo o que vai pelo peito de uma mulher que é uma eterna apaixonada.
Coisas de mulher com alma sonhadora.
Mas sem pretensão de ser escritora.
Beijos e beijos

Tania

sexta-feira, 24 de abril de 2009

- Sobrenomes


De repente Aracaju, virou uma cidade grande, bonita, agradável, podemos dizer desenvolvida. A visão megalomaníaca, como muitos acham do Gov. João Alves trouxe o progresso e em conseqüência todos os perigos das grandes metrópoles.
Mesmo bancando moradores de cidade grande os Aracajuanos, não esquecem os modos, por vezes, de interioranos. Consideram Aracaju, um ovo, onde todos se conhecem, são parentes e fazem propagadas disso nas inúmeras comunidades do Orkut na Internet.
As pessoas são avaliadas pelo sobrenome e não pelo nome. Você pode ser inteligente, trabalhador, ter um bom salário e um bom emprego, mas a sua competência cai por terra quando alguém pergunta de que família você é.
Tornou-se folclórico o uso de sobrenomes. Cada hora temos um na moda, em meus anos de Aracaju, já vi vários, Prado, Leite, Garcez, Vasconcelos, Mendonça, Barreto e outros mais, todos ligados a uma figura Política de destaque ou a um grande negociante da terra.
Quem tem um parente lá por traz da serra, que lhe possibilita usar um nome de destaque, despreza o seu nome real, por um importante, desde que não seja Santos, Jesus, Silva. E quando acontecem os casamentos, a esposa e os filhos devem usar o nome mais importante nos documentos, descartando até mesmo o nome do marido a quem jura ser fiel na riqueza e na pobreza, na saúde e na doença, mas no sobrenome, jamais haverá juramentos.
Na época de curso universitário assisti uma vez uma moça fazendo escândalo por ser reprovada em uma matéria que a Professora usava Santos como sobrenome e era negra. A Professora é uma Doutora, com um nível de conhecimento invejável e uma didática das melhores que já vi.
Mas a moça gritava aos quatros ventos pelos corredores, “só podia ser preta e dos Santos”, na época ainda não existia a Lei Mª da Penha, nem penalidades por preconceitos o que possibilitava oportunidade as meninas de famílias, que freqüentavam a Universidade, os escândalos que quisessem.
Anos depois, fui a vítima. Não sou Sergipana, nem sou casada com Sergipano. Portanto, meus sobrenomes são importados de outros estados, não sendo eu parente de nenhuma autoridade, nem de família tradicional, apesar de ter sobrenomes conhecidos.
A cada hora, no meu trabalho com políticos no PFL, sempre encontrava alguém querendo associar um dos meus sobrenomes a esse ou aquele político. Sempre me diziam: Você é eficiente. Você é de confiança. Você é competente. Você é agradável, mas sempre vinham as terríveis perguntas: Você é irmã ou sobrinha do Deputado, do Vice-Governador, do ex-político e outras autoridades mais, que levasse a associação do meu nome.
Hoje em dia já não trabalho com política, e já não ouço esse tipo de pergunta. Entretanto, o hábito de querer ser parente de políticos não desapareceu ainda da vida das pessoas. Volta e meia encontramos alguém querendo bancar o importante, o nobre, usando um imponente nome que o torne importante também.
Bastante interessante. A Universidade está aí, bem como diversas faculdades, para que as pessoas estudem e procurem com méritos próprios e capacidade serem importantes, mas se torna mais fácil ser parente.
Eu não consigo entender nem achar engraçado. Estamos em 2009, vivemos em um Estado em pleno desenvolvimento e a cabeça das pessoas, uma minoria é claro, continua provinciana, interiorana, fazendo questão de ostentar um sobrenome, conseguido sabe lá Deus como.
Por isso faço questão de assinar somente Tania, que é meu, só meu, não que eu tenha vergonha dos meus sobrenomes, mas são somente sobrenomes, que herdei que ganhei quando casei.
Meu mesmo é só Tania.

Tania.


segunda-feira, 20 de abril de 2009

- Ser Gente Boa...


Ser Gente Boa...
Não sei se me interessa “ser gente boa” para o meu marido.
Não sei se é só isso que me faz permanecer junto dele, dividindo cama, banheiro, mesa de refeições, problemas, crises, criação de filhos (eta coisa difícil).
Ser gente boa me tem um som de piedade, é banal demais... O entregador de água mineral é um rapaz gente boa. O mecânico que me socorre com meu carro, também é gente boa. Aquela Professora que morreu na porta da escola em um assalto era gente boa. E muito mais pessoas a gente rotula de gente boa,
Eu quero mais, muito mais... Quero um homem que me ofereça um ombro nas minhas tristezas. Quero um que vibre nas minhas vitórias. Que respeite os meus acho, que e porque. Quero um homem que tenha tesão em mim, e que sofra a minha falta. Que me faça sua fêmea, não porque “sou gente boa”.
Infidelidade?? Não sei significar corretamente. É uma relação escondida, às pressas, com medo? É o usar um corpo atraente, para trocar o óleo?.
E o resto? Os vínculos? Os almoços nas festas tradicionais do ano? O segurar minha mão quando a barra pesa? A cumplicidade nas horas alegres e tristes?
Mas isso não quer dizer que não tenho ciúmes... Muitos, vários, diversos... Ciúme quando os seus pensamentos não são só meus. Ciúme daquela cervejinha com os amigos. Ciúmes dos cavalos que o roubam de mim, com cuidados, banhos, remédios, capim, etc...
Credo acho que “ser gente boa” deu um nó na minha cabeça.
Eu realmente não quero ser gente boa, quero viver com meu marido até o dia que sentir saudades de cheiro dele, que sentir que preciso ligar 3 ou 4 vezes no dia para ele, que sentir saudades da sua mão na minha, que sentir vontade de voltar para casa porque ele me espera.
Não quero ser gente boa. Quero ser a que faz falta, a que a música faz lembrar, a que sente e dá prazer em dançar agarradinho, a que assiste todo ano ao show de Roberto Carlos abraçada. A que divide o último cigarro do maço, A que divide um vinho do porto olhando as estrelas. A que é necessária na vida dele,
Será que quero demais? Depois de 30 anos vivendo juntos, me sinto no direito de ser mais que gente boa...

- Quando se é avó


Como filha de pais separados, criei uma capa para me proteger das dores que uma tumultuada separação de pais deixa no coração, e com isso inclui toda uma família junto, que sempre se acham no direito ou dever de comentar, aconselhar, ”se meter” na vida e nas opções que as pessoas fazem.
Criei filhos, mas como toda trabalhadora, mais preocupada com o trabalho, horários, em uma roda-viva, que a vida moderna nos impõe (graças a Deus) sempre dependendo de secretárias domésticas, da casa de uma ou outra vó, e por vezes até de avô.
Minha satisfação pessoal e o meu ego estavam cada dia mais satisfeitos. Afinal, eu era muito boa no que me propunha a fazer, e os elogios, presentinhos, o salário e gratificações, próprios de quem lida com políticas, e políticos, me agradavam profundamente. Não tinha problemas com marido, que sempre esteve ao alcance do celular, por perto, prontinho a me socorrer de uma cantada, uma confundida de opções sexuais, e outras coisas que a vida no meio de político traz. Afinal, eu lidava com homens sempre arrumados, que usam um bom perfume importado, e que sempre tem dinheiro para pagar bem mais que uma Coca-cola, e que por vezes confundiam a minha função. Também quem manda ser bonita e ter perna grossa... rsrsrsr.
Meus filhos cresceram, e o evento Lula, me fez adiantar minha aposentadoria. Fiquei meio que perdida. Aos 48 anos, aposentada, meu partido fora do poder, e eu tomando as rédeas da casa depois de muitos anos. A depressão andou dando sinais que seria minha companheira, mas eu não me dei por vencida, afinal sou Ariana, e voltei a estudar, a ler, hábito que andava raro nos meus dias, porque para mim a mulher que resolve ser apenas prendas do lar, acaba perdendo o respeito por si mesma (preconceito meio brabo). E aproveitei também para voltar a trabalhar na Educação da Prefeitura, coisa que nunca tinha feito por estar eternamente requisitada para outros órgãos.
Tudo muito bem, até o dia que meu filho me comunicou que eu seria Avó pela 1ª vez. E agora? Minha vaidade não me deixava curtir o ser avó. Achava-me muito nova ainda. Mas o que não tem remédio... Remediado está!
Nasceu uma menininha linda. Mas a mãe que desse o peito e aprendesse a dar banho, eu tinha muita coisa com que me ocupar que não incluía recém nascida.
Mas, a vida nos reserva sempre surpresas, que não esperamos. Quando a minha neta estava com três meses, em uma noite de surpresas, me foi devolvido o filhão com a filha nos braços. E agora, o que fazer?
Opa! Tive que aprender, ou reaprender a cuidar de uma criança. Meu marido foi cúmplice e pai muito mais que avô. Eu aprendi músicas, histórias infantis, a fazer bonecos, borboletas, joaninhas, baratinha com laço de fita na cabeça, que eu dava vida em minhas mãos. Comecei a descobri o quanto prazeroso é ser avô-mãe. Como o amor é diferente, e grande.
E foi o amor que senti por Safira que me fez mudar. A descobrir o sentido e a importância da minha família.
Hoje, já não me importo com opiniões, comentários, simplesmente me divirto com eles, quero sim resgatar o convívio, o conhecer descobrindo em cada um deles um pouco dos meus traços.
Safira, veio ao mundo, me fazer mais tolerante, mais humana, mais amor.
A vida, realmente nos reserva surpresas!!
Tania

segunda-feira, 13 de abril de 2009

- Retrato 3x4 para uma identidade




Retrato 3 X 4 para uma Identidade

Carteira de Identidade é um documento que nunca nos abandona, diferente de outros documentos que tiramos pela vida a fora, Pis/Pasep, CPF, Título de Eleitor, Carteira de Formação do Nível Superior, Passaporte, Cartão da Conta Corrente, das diversas lojas de descontos, e os famigerados Cartões de Créditos, que é melhor não estar à mão, às vezes.

Sempre que você precisa usar um desses documentos, transformados em cartões, só é possível se você estiver à mão a bendita Carteira de Identidade, que deve ser renovada a cada 10 anos por perder a validade, o que é uma invenção da vida moderna. Lembro que meus pais possuíam uma única Carteira de Identidade, durante a vida toda. Antiga, amassada, modelo que já nem existia mais, o retrato já estava amarelado, por ser em preto e branco e assim mesmo era usável.

Hoje, se você possui uma identidade antiga, qualquer banco, ou para inscrição de concurso, ou mesmo nos aeroportos já rejeitam, está fora da validade.

A cada 10 anos você tem que perder um bom tempo em um Instituto de Identificação para dizer que continua viva, que sua digital não mudou, mas a sua letra sim, e o seu retrato mudou demais.

Entrei a semana com esse problema. Mudar o R.G. Eu que tinha horror ao retrato da minha, e a ter que assinar o meu nome inteiro, o que nunca faço por ser grande demais, teria que dispor de tempo, criar tempo para a árdua e penosa tarefa.

Meu marido faz parte da COGERP, ou seja, é um dos Peritos Criminalísticos da Sec. de Segurança, eu não iria enfrentar fila, não ia esperar sentada para ser atendida, mas mesmo assim protelei o quanto pude. Eu tinha horror de ter que mostrar a Identidade, preferia por vezes lançar mão da Habilitação, ou do Crachá de funcionária da Prefeitura, ou da Assembléia.

Mas tomei coragem e fui tirar retrato 3x4, pois os que eu tinha estavam vencidos como dizem. Entrei em um estúdio de fotografia, dos muitos que têm na continuação da Rua de Capela, no Parque Teófilo Dantas, onde as fotos são entregues na hora e são bem mais baratas.

Havia um rapaz sentado, frente a um Computador e perguntei se tirava retrato 3x4, ele me respondeu que sim. Insistentemente perguntei: Mas faz mágica, para a gente ficar mais jovem? Mais bonita? Ele sorriu e abriu o tal do Programa Photoshop e disse:

-Vamos lá, tentar.

Pensei, comigo mesmo, eis a chance de ficar nova e bonita em uma Carteira de Identidade. Olhei-me em um espelho que ele me indicou, a maquiagem já havia derretido devido ao terrível calor, mas o que fazer? Somente passei a mão pelo cabelo, tentando arrumar um pouco e vamos lá à bendita foto 3x4, que me lembra os antigos santinhos distribuídos nas missas de 7º dia, onde a família sofrida, chorosa não se preocupava com a aparência do finado na foto. Apenas o identificavam para que lembrasse o rosto do morto.

Fiquei alguns segundos parada, esperando o rapaz trocar o chip da máquina digital e como tenho pensamento rápido, pensei: vou tirar um retrato alegre, sorrindo, aproveitar a minha blusa vermelha. E, assim foi.

Minutos depois, lá estava eu no Computador em três poses diferentes, sorrindo, de bem com a vida, que é como eu me proponho estar sempre, de um tempo pra cá. O rapaz começou com a sua mágica, cabelo não ficava desalinhado, marcas de expressão na testa, nas maças do rosto, no pescoço, nada mais existia.

Fique olhando perplexa. De repente não era mais eu quem estava na tela do computador. Era uma Barbi, que nunca envelhece, ou uma Global, que pessoalmente assusta pela diferença. Era realmente uma mágica, mas me assustava.

Ali, naquela tela, eu havia perdido a minha identidade. Onde estavam nos meus olhos, as marcas de lágrimas derramadas, os vincos da minha testa, provocados por angústias e por alegrias, a grande prega nas maças, fruto dos sorrisos. Por que tirar o que o tempo modelou, que são conseqüências de horas felizes, de muito amor, de horas tristes de dor, desamor, apreensão e outras coisas que a vida nos traz.

Eu timidamente disse ao rapaz: Não, não precisa tanto, senão eles não vão aceitar, assim fica bonita demais.

Mas não era isso. Eu não conseguia era me achar.

Sou vaidosa, brigo contra a idade, não passo sem uma boa maquiagem, mas ali eu havia descoberto que tudo isso dentro do que é meu. Do hoje, do agora. O passado tem que ser só passado, senão, não tem sentido se ter saudades. Eu já fui jovem, bonita, já vivi tudo isso, hoje meus valores têm que ser outros e meu rosto tem que ser meu, atual, não o que passou o que é passado, o que era inocente, irresponsável, sonhadora, que amava demais e chorava demais.

Não quero Photoshop em minhas fotos, não quero cirurgia plástica no meu rosto, quero viver o meu momento, onde sigo aprendendo que a minha vida é o agora, o hoje, o instante que vivo.

Só preciso de um bom fotógrafo que consiga capturar o brilho que ainda existe em mim. E foi isso que eu consegui na minha foto. Alguém que mostrou que estou de bem com a vida, agora, hoje, neste instante.

Então eu finalmente estou com uma nova Carteira de Identidade apresentável, atual, com uma foto que sorri para a vida.

Não vou mais escondê-la.

Afinal, quem é bela e pretensiosa envelhece, cria rugas, marcas de expressão, mas não fica feia.

Com certeza não vira bruxa... kakaka


quarta-feira, 1 de abril de 2009

- Na hora de dormir


Na hora de dormir

Quando criança sempre via as amigas de minha mãe conversando sobre o enxoval que estavam fazendo, ou como deveriam fazer, para as filhas já moças e casadoiras.
Algumas então faziam questão de mostrar os belíssimos lençóis sempre brancos, bordados a mão, em tecidos finos.
Eu, pequena ainda, mas curiosa, ficava olhando e não entendia o porquê de 2 fronhas, 1 forro de cama, e 1 lençol de cobrir. Lógico que também não podia pedir para tirarem minhas dúvidas.
A mãe da noiva fazia o enxoval para ser usado só pela noiva?
Por que 1 só lençol de cobrir?
Será que o noivo é que levava o lençol dele?
Criança, não podia falar em determinados assuntos, muito menos tirar dúvidas. Somente bisbilhotar as conversas das mães, sempre calada.
Não entendia. Era tudo belíssimo, mas como dormir naquele lençol cheio de goma e bordados?
Quando cresci um pouco e chegou a televisão em Aracaju, passei a ver nos filmes o casal dormindo em uma cama, e 1 só lençol cobria os 2.
Continuava não entendendo... Acho que eram os meus primeiros sinais de rebeldia e independência que afloravam em uma época em que criança era tratada como débil mental que nada entendia tudo ouvia, e tinha sempre que calar. E assim passei anos a fio sem entender o porquê da economia de lençol. Mas sabia que não queria aquilo para mim.
Sou meio metódica para dormir. Não durmo na cama que não é a minha, lençol tem que estar bem esticado no colchão. Não suporto o cheiro que não seja o meu, o que geralmente é uma mistura de alfazema com cigarro, no meu travesseiro e não divido lençol de cobrir com ninguém.
Quando estava comprando os meus lençóis, época em que, como boa rebelde já estava grávida do meu primeiro filho, irritava minha mãe pela exigência de comprar 3 lençóis. Isto representava mais gastos, e logicamente mais roupa para lavar. Afinal as lavadeiras cobravam 4 peças por lençol.
Para mim, não adiantava a argumentação que a tradição era que um casal dividia o lençol. Eu já achava, e acho insuportável ter que dividir quarto, cama, e ainda lençol? Nada me convencia. E o meu direito a minha privacidade de dormir como gosto onde fica?
Para mim, um casal não necessita dividir um lençol para se sentir juntos, nem para amar, nem para fazer amor.
Amor... é para ficar acordado, ser acordado, vivê-lo acordado.
Tania

- Peito que dói...


Peito que dói...


Quando comecei a escrever as angústias que povoavam meu coração, tive em mente que deveria escrever com palavras simples. Assim, quem se propusesse a ler não teria que ficar recorrendo a dicionário para saber o significado de palavras que não fossem do uso comum. Nunca pensei em ser erudita, por achar pedante, sem sentido e pouco aconchegante. Eu queria falar, não mostrar o meu domínio da língua Portuguesa.
Na minha época de estudante, era obrigatória a construção de dissertação, os temas eram sempre colocados em belos e grandes cartazes em calavetes bem na frente dos alunos. Todos os textos eram feitos em salas de aulas sob a supervisão de um mestre. Não era trabalho para casa, onde se pensa repensa-se, apaga e arruma, pede-se opiniões de amigos e familiares. Tudo era ali, na hora com tempo marcado, onde não se podia nem ruminar. Não existia computador, Lep Top, e o famoso Google, você tinha que ter imaginação e gostar ou aprender a gosta de escrever.
Hoje, com a minha participação nas rodas de leituras, que acontecem mensalmente na Biblioteca Pública, em conjunto com o Pró Ler, a febre de escrever se acentua cada vez mais e mais. Cada vez que eu acho que já escrevi tudo, aparece um bicho carpinteiro na minha mente e me força a escrever noite a dentro. Por que escrever? Não sei, talvez para esvaziar o peito. Que me interessa quem vai ler? Só nunca consegui me atrever a ser submetida a julgamentos. Tenho os meus medos.
Não escrevo para provocar mudanças em ninguém, nem poderia ser tão pretensiosa. As mudanças são frutos de processos que são vividos pelo sujeito, fruto da sua educação doméstica, suas vivências e companhias que têm. Tudo o que somos são consequências do que lemos, vivemos e incorporamos vida a fora. Não por temor a Deus, mas por respeito a si mesmo e em consequência ao ser humano que habita esse planeta.
Tive uma educação, rígida apesar de ser rebelde e sonhadora. Sempre me considerei muito além do meu tempo, mas as marcas deixadas em minha personalidade, fruto dos ensinamentos domésticos e vivenciados no Colégio de Lourdes e Jackson de Figueiredo permanecem em mim até hoje.
Aprendi a não mentir, não enganar, não roubar, respeitar os mais velhos e o ser humano, a desprezar o preconceito, a viver um dia de cada vez, sem tentar pisar nos outros tentando fazê-los de degraus, em busca de sucesso e vitórias. Sei honrar minha palavra e principalmente não ter a pretensão de querer ser espelho de certezas para ninguém.
Nesse mundo de incertezas, talvez seja por isso que o meu peito dói e tenho que escrever. Por vezes, encontramos os que dizem: “tento fazer a minha parte”. “Uma atitude construtiva exige tempo e paciência”. Não, acho que não é assim, precisamos é de vergonha e respeito, e isso se aprende na infância.
Quem aprende, quem conhece, quem vive, tem o peito que dói, por ver tantos vestirem-se na pele de cordeiro pela vida a fora.
O meu peito rebelde dói. E, então, eu escrevo e escrevo...

Tania

- Uma bolsa para mulheres



Uma bolsa para mulheres


São 6:00 horas da manhã, ainda meio acordada meio dormindo lá estava eu na cozinha arrumando a lancheira de minha neta que iria a escola em mais um dia de aula. Todos os dias eu tenho a obrigação de olhar o material dentro da pasta para ver se não esqueceu nada e arrumar o lanchinho dentro da lancheira.
Faço isso depois de beber dois dedos de café em um copo que chama urgente um cigarro. Gosto de beber meu primeiro café da manhã em um copo que tenho daquele bem comum, que é usado em qualquer bar e que tem o apelido de Americano. Lembra-me o tempo que eu fazia o científico e que saía de casa cedo para beber um café na padaria que ficava entre a minha casa e o colégio em que eu estudava.
Beber café para mim, que não gosto de comer pela manhã em uma padaria e sair fumando um cigarro Continental em uma hora em que não tinha ninguém na rua por ser muito cedo, era o máximo da liberdade-escondida que eu podia ter, aos meus 16 anos. E o hábito de tomar café em um copo eu tenho até hoje.
E cumprindo meu ritual matinal, estava eu na cozinha quando chega minha neta, linda, cheirosa e com uma bela bolsa cor de rosa no ombro, imitando gente grande que vai sair para trabalhar. Ela não se preocupava com a pasta, os livros nem a lancheira. Sua única preocupação era a bolsa cor de rosa que tinha o formato da cara de um gato, onde ela arrumava uma pequena boneca, um batom infantil e outras brefaias como toda cuidadosa moça.
Minha neta me dá um beijo, entra no carro e sai vaidosa me deixando de boca aberta a pensar na importância de uma bolsa bonita para uma mulher.
Que fetiche tem uma bolsa?
Uma bolsa é a companheira e cúmplice, calada, testemunha silenciosa que carrega uma vida dentro dela. A vida de quem a carrega no ombro.
Ela tem que ser bonita aos nossos olhos, tem que ter uma cor que agrade, uma boa qualidade, várias divisões dentro dela onde se pode colocar cada vez mais e mais coisas. Tudo para suporta o batente de ir para cá e para lá, ser jogada no banco do carro, no guarda-roupa, em cima de mesas, e por vezes ficar espremida entre o nosso corpo e o braço de uma cadeira. No chão jamais!!! Diz a lenda que acaba o dinheiro, que geralmente é o que ela nunca carrega, só miúdos e moedas para emergências.
Quando estamos felizes, sacudimos, balançamos, quando choramos apertamos contra o corpo em busca de um abraço que ela não pode retribuir. Ela só retribui o silêncio.
Não reclama da sempre falta de organização, de mexermos e remexermos nela procurando chaves, canetas, que sempre existem em duplicidade dentro e nunca conseguimos achar. Suporta cheiros de vaporizadores de perfume, canetas que vazam, batons que perdem a tampa a sujando, e um monte de papéis de todos os tamanhos que sempre empurramos para dentro sem nem abri-las.
Mas não é tudo. Simplesmente um dia trocamos tudo que carregamos nela para outra bolsa mais nova, ou mais bonita.
Passou um bom tempo nos acompanhando, conheceu cinemas, bares, restaurantes, carros, supermercados, lojas chiques, lojas de departamentos, feiras e armarinhos. Foi testemunha de farturas e quebradeira. Cúmplice em encontros e amores. Esteve sempre presente nos nossos medos e destemperos. Sempre em silêncio nos viu rir de felicidade, de ironia, fazer caras e bocas, críticas e elogios. E nunca nos traiu, e é simplesmente trocada por uma mais moderna, mais bonita. Em alguns instantes o seu destino é o fundo de um guarda-roupa, ou um novo dono que necessite de uma bolsa usada.
Mas mulher não passa sem uma boa bolsa. Sem apego, sem sentimentalismo bobo, sempre pronta para fazer uma boa troca.
Afinal, onde vamos carregar os pedaços das nossas vidas?
Quem pode ficar ao nosso lado em silêncio?
Afinal... Batom, escovas, canetas, borrachas, cartões, lenços de papel, lápis para olho e para a boca, preservativos, remédios, chaves, bilhetes, lembretes, contas para pagar, contas pagas, documentos, borrachinhas de prender cabelos, celular, bala de diversos sabores, uns chocolates, até mesmo um livro ou revista, além do talão de cheque e algum dinheiro, não podem ser carregados nos bolsos da calça, na mão, ou deixar de estar presentes no dia-a-dia de uma mulher.
Não é fetiche... É necessidade... É mania de ter tudo à mão. É a necessidade de ser perfeita. É a praticidade que se impõe à mulher.
Realmente... Bolsa é companheira indispensável de uma mulher.

Tania

- A tranqüilidade que Pirambu me traz.


Eu ainda gosto da tranqüilidade que Pirambu me traz.



Estou de volta para Aracaju, acabou o carnaval, já entramos no período da quaresma... Com a quaresma está chegando devarzinho a chuva para lavar o resto de carnaval. Vai levar com certeza, as mentiras, as promessas, as confissões feitas ao anoitecer, às juras de amores, os amores desfeitos, os sonhos de glorias, os enganos, e tudo mais que o carnaval trouxe.
Agora já não ouça mais alguém procurando “Dalila”, nem a canja de Cid Natureza, que tentava relembrar antigos carnavais, acabou a campanha do inocente, adolescente, aborrecente, que tentou imitar Vitor e Léo cantando Borboletas. As marisqueiras já recolheram suas fantasias, graças a Deus só o ano que vem.
Perdi vestidos, baby doll, algumas maquiagens estão imprestáveis, batons quebrados, mas me divertir muito... A sátira comandada por Tiago, em uma Carmem Miranda incrível, conseguiu deixar o Carnaval mais leve. Menos pretensioso mais descompromissado com o sucesso. Mas o sucesso aconteceu com Garrote, com a roupa de Luciana sua irmã, Fumaça, que usava biquíni e blusa de Bruna, Erik, Leco e o amigo Vaqueiro da égua lorinha Adriano, que saíram de Japaratuba em busca das Marisqueiras, Combate sem trator, vestindo um vestido de Clesiane, e outros mais que resolveram fazer da minha casa um salão de beleza, com direito a bebidinhas, bebidonas, e comidinhas, na ida e na volta do bloco. Foi tanta Vaquejada relembrada pelo Vaqueiro, da égua Loirinha...
Foi um carnaval diferente que tive...
Ouvi Sidney meu visinho reclamar do mau cheiro dos Túneis de Lixo, que de tão cheio, se espalhava pela calçada em um odor insuportável dos restos de mariscos, latinhas, e outras coisas. Não entendi porque da reclamação, afinal, lixeiro também tem direito a carnaval... Custava os moradores se reunirem e irem levar o lixo da rua lá na lixeira, no caminho da Lagoa Redonda!?!?! Estão mal acostumados...
Soube da surra que o filho da minha amiga a saudosa Vilma tomou no arrastão... É! Na briga do rochedo com o mar o caranguejo sempre leva a pior...
Não sai no bloco dos idosos... Também não sei se saiu... Só sei que sou fundadora, mas Doca, D. Jaci, D. Mª José, D. Nerita, Semy, Vermelho e Cú de Açúcar não lembraram de me convidar. E eu iria, com certeza...
Tudo de bom é o bloco dos idosos. Seguro, com refrigerante e cerveja, para acalmar o calor, Confete, Serpentina, Mascaras, fardamento identificando os participantes, Médico e Enfermeiras em uma ambulância para socorrer quem se sentir mal, e um bom lanche na chegada... Não que eu vá usar os privilégios, do bloco, porque não bebo não passo mal, nem sou de comer lanches... Mas sei que tem para os meus velhos, com quem compartilho das marchinhas de antigos carnavais... Será que saiu??
Mas, tudo bem... A cidade não teve 30.000, nem 40.000 foliões, mas estava sossegada, sem grandes agitos, permitindo a todos comemorarem o carnaval, e descansarem também. Não valeu a pena para os comerciantes e ambulantes que investiram tanto e não tiveram tanto lucro. Foi ótimo. Deixa o agito para Neopolis mesmo... Eu ainda gosto da tranqüilidade que Pirambu me traz.


Tania

- Divagações


Um dia eu pensei que a minha vida seria só minha. Que esse mundão o meu Deus tinha me presenteado com o objetivo de um dia eu achar ele pequeno de tanto que andaria, e viveria.
Santa e boba ilusão de adolescente, de jovem que se perdem no meio dos contos de fadas, nos belos romances obrigatórios na escola, ou simplesmente que sonham um dia com os ensinamentos de Karl Marx, e o encantamento sexual de Che Guevara.
O corpo obrigatoriamente se transforma, e de repente você se encontra com uma mulher adormecida dentro de você. Os apelos do corpo se tornam maiores que o da cabeça sonhadora. A mulher surge para tomar o lugar da jovem, achando que a sua parte sexual é muito mais importante do que tudo que se sonhou, se viveu, se aprendeu, porque lhes dá o prazer animalesco, a faz fêmea, pronta para a fatal reprodução tão decantada, tão dita e chamada de linda, mas que não perdoa. Transforma o corpo mais e mais, o efeito gravidade se faz presente, bem acompanhado da terrível depressão pós-parto, não entendido, não compreendido por todos, e por vezes não diagnosticadas pelos médicos.
E lá estou eu passando por toda a metamorfose imposta, e de repente descobrindo os primeiros fios brancos nos meus cabelos que insisto em pintar, e procurando onde foi que me perdi. Onde ficaram meus sonhos que um dia embalaram o meu sono? E o mundão que eu havia ganhado como ele se tornava grande demais agora.
Por que será que eu me apaixonei e deixei o meu lado animal ser mais forte em mim? Por que a ilusão de uma eterna paixão se faria para sempre em minha vida? Poetinha, ela é realmente é eterna enquanto dura, mas ela vive mudando de endereço e torna-se eterna eternamente várias vezes.
Não sei onde anda o meu eu... Será que ainda existe? Ou foi também só um sonho?
O que sou afinal? O que resta de mim? Não tenho tempo para divagar em perguntas, a cada esquina existe uma cobrança, que me exige mais e mais, porque eu sou a responsável pelas dívidas que contrai pela vida a fora...

Tania

- Choro de criança


Quero minha mãe... snif ! snif!
Quero ir para minha casa... snif! snif!
Não vim para essa escola para lidar com Pré-Escolar...

A rotina que estou vivendo esse ano no trabalho me inquieta. Choro de criança com saudades de casa e de mãe dói no meu peito e me provoca remorsos. Coisas de mãe que trabalha fora e que criou filhos com secretárias, com Professoras nas escolas, nas aulas de banca, de reforço, por nunca ter tempo, nem boa vontade de criar tempo.

A rotina do trabalho fora de casa, o se arrumar o melhor possível em menor tempo que se possa, o supervisionar lanches e fardas, sem esquecer que temos sempre que dizer o que fazer para o almoço, como deve ser lavada a blusa, e, blá, blá, blá... , não deixa espaço para se ter boa vontade de criar tempo para filhos, que torcemos que cresçam, e cresçam...

A rotina acaba no dia que você já não aquenta mais a roda viva e se aposenta. De repente procura um chão e não acha. Seus filhos cresceram, e cresceram, e você não viu direito. Aprenderam a ler, a usar o computador, a fazer suas escolhas de cultura, e você não esteve ali para ajudar, para sugerir, para dá opções, para impor mesmo. Você não teve tempo. E o remorso bate feio, com gosto amargo na boca.

Mas a vida não pára, e os espaços são outra vez ocupados. O meu é em uma escola de 1º grau que de repente foi apresentada à nova estrutura de ensino feitas em gabinetes. Nesta nova estrutura, a criança de 5 anos ou 6 anos incompletos já faz parte do 1º grau, supondo-se que já foi pré-alfabetizada. É uma imposição que vai de encontro às teorias de Piaget, para quem as crianças até os 7 anos se encontram em um período Pré-operatório, simbólico, intuitivo, mas sem conservação.

Antigamente a escola tinha um objetivo definido de Instruir e Educar. Assim foi quando estudei o antigo Primário, Ginásio e Cientifico. Havia aulas de Boas Maneiras, Canto, Música, com direito a régua nos dedos quando errava uma nota no piano. Com o tempo e os modernos métodos de ensino, a cada dia se apresenta uma novidade e são impostos às escolas como grandes descobertas, novidades, que nos fazem sempre estar desatualizadas, despreparadas, freqüentando cursinhos de atualizações, e mais cursinhos. A escola perdeu a sua característica de educar, passando somente a instruir, o mais urgente possível, porque tudo gira em torno das datas do vestibular, ficando assim a tarefa de educar a cargo da família.

E tudo urge. Tudo tem que ser o mais rápido possível. Alunos que deixam as escolas sem serem educados, nem instruídos. As fábricas de colégios particulares está cada vez mais rentável, lá se faz a matrícula, se compra o fardamento e todo material que deve ser usado pelo aluno, sem proporcionar opções de outras livrarias onde o preço poderia ser mais acessível porque tudo deve ser com o timbre e a logomarca da escola. E assim elas ficam cada vez maiores, com novidades e novidades prometendo fazer vários atletas, alunos de 1º lugar em diversos vestibulares, e professores cada vez mais despreparados, descompromissados se apegando às teorias de Alicia Fernandes que não conhecem, só ouviram falar.

Esse Professor despreparado acabou de sair de uma faculdade. Não que ele a tenha feito por vocação, mas por facilidades no acesso a um nível superior, o que geralmente finda criando profissionais especialistas em pesquisas e cópias do Google da Internet. E é este mesmo professor que vai para a escola e recebe um pequeno que chora com saudades da mãe. Mas ele não esta ali para ser a Tio que consola pq ele é o professor que tem um programa a cumprir, com um tempo marcado, com calendário de começo e fim, e uma progressão que deve ser feita porque não é lucrativo ter uma criança repetindo ano.

Do outro lado se tem uma família cada vez mais desestruturada, esgarçada, correndo e correndo para atender a sobrevivência, aos apelos de uma sociedade de consumo, cada vez mais impiedosa, que não tem tempo para ouvir o choro de saudades do filho. Uma família que não quer ser incomodada com problemas, que deveriam ser da escola? Que é dá escola? Acho que é da criança mesmo que tem a obrigação de sobreviver e se adaptar a essa sociedade que hora se apresenta. Cresce menino! Cresce...

Para quem tem remorso... Pede para parar, pede para colocar a criança pequena no colo, manda às favas os calendários, os programas, bate de frente com as normas, porque o coração fala mais alto. Esse coração tem remorsos