Meu cantinho

Criei um cantinho para postar os meus primeiros vôos, na inebriante tarefa que é escrever. Aqui tem os meus pensamentos, as minhas revoltas, e tudo o que vai pelo peito de uma mulher que é uma eterna apaixonada.
Coisas de mulher com alma sonhadora.
Mas sem pretensão de ser escritora.
Beijos e beijos

Tania

terça-feira, 26 de maio de 2009

- Quando se está amando


Quando se está amando


Minha semana começou com meu peito inquieto. Estava com saudades de meu marido que não voltava de Pirambu. Imaginem que depois de 30 anos morando juntos, ainda fico com saudades quando ele não está em casa. Comecei por arrumar umas gavetas, tirar o que não uso e criar espaços; mas não parei por aí. Era domingo, e o dia me parecia longo, as mensagens da minha caixa de e-mail não tinham graça nenhuma. Então continuei a arrumação agora na garagem, que me irritava terrivelmente, cheia de bagulhos que filhos e marido vão colocando. Passei o domingo a tirar coisas do lugar e fui dormir tarde da noite lendo um livro de Simone de Bouveir, escritora Francesa de que eu gosto muito.
Segunda-feira, diferente do final de semana, acordei cedo com o propósito de encarar uma greve nas Escolas Municipais, que acho justa, porém sem futuro. Mas tudo bem, não sou eu quem vai ser contra uma greve. Eu simplesmente estava inquieta, meio intolerante e ainda tinha me comprometido de, naquela tarde, ir com uma amiga assistir um filme Francês lá no Shopping.
Já passava das 14h00min quando ela me telefonou me lembrando o horário do filme Troquei a roupa e corri para o carro com a minha auxiliar me lembrando que eu comprasse verdura, o filho pedindo que colocasse crédito no seu telefone, afinal era uma necessidade, ele está de namorada nova, outro filho a querer saber aonde eu ia, onde estava o pai dele e minha neta me fazendo jurar que eu não ia demorar. Sair em plena segunda-feira à tarde quando meu marido não está em casa parecia um suplício...
Cheguei ao Cinema e ele não estava diferente do restante do Shopping. Cheio de gente, um monte de criança, de adolescente, como sempre a fazer algazarra, com gritinhos, parecendo que um quer aparecer mais que o outro, engraçados, irreverentes, todos longe do pai e da mãe que podem e devem dar o limite de comportamentos em lugares públicos. A fila estava grande, mas eu abusei outra vez do fato de ser cinquentona, e ser portadora de labirintite. Fui atendida sem fila, onde uma mocinha me perguntou se era meia ou inteira.
Eu sem saber o preço do ingresso, disse: Minha filha eu sou Professora, pago meia ou inteira? – A Senhora tem como provar que é Professora?
- Sim. E mostrei a gloriosa carteira da Prefeitura. Ela olhou o retrato, olhou para mim, acho que não estava gostando de um retrato que foi tirado faz mais de 20 anos, quando eu ainda era jovem e usava o cabelo preto... Interrompi a conferência dela perguntando: quanto é? Afinal o filme já estava começando. Ela respondeu: - R$ 3,50, senhora. Não entendi e perguntei: - Como? R$ 3,50? Ela balançou a cabeça que sim, eu paguei e sai rindo. Eu ia assistir um filme por R$ 3,50... Ficava mais barato que o sanduíche do McDonalds ali ao lado.
Sentei-me na última cadeira com minha amiga, que insistia em conversar, em saber se eu sei falar em Francês, sem saber ela que eu queria mais é que ela calasse a boca e esquecesse que eu estava ali. Eu queria uma companhia silenciosa, queria me deliciar com o filme e ver tudo nos mínimos detalhes. Afinal era um filme Francês e pelo pouco que entendo de Literatura Francesa, as coisas ficam subentendidas, não precisam ser dita.
O filme era legendado, o que me deixava agoniada. Sabe-se que em um filme legendado perde-se 50% do entendimento do filme.
E logo aquele filme: lindo, perfeito, que me convidava a cantar, bater os pés acompanhando a música, que tão bem conheço e que me prendia nas expressões dos atores, que eram maiores que a fala, por vezes perdendo a legenda, para me fixar nas expressões, no cenário, e nos olhos da atriz principal.
Minha agonia só aumentava... O cheiro de pipoca com manteiga, que deixavam o ar insuportável, com um monte de jovens que entra conversando, acendendo luz do celular, tropeçando em minhas pernas na passagem e desistindo do filme e saindo no maior comentário.
Eu só queria assistir ao filme. A história batia comigo, falava em amor quando a idade chega e a vida avança velozmente.
Acabou o filme e sai sem querer conversar sobre ele. Minha amiga insistia. Convidei-a para um café, e começamos a falar em filhos, em greve, e disse apenas: - Eu preciso ruminar... Mas não era isso. Eu preciso assistir outra vez ao filme. Mas em casa, longe do cheiro de pipoca, de adolescentes entrando e saindo, em silêncio, de preferência sem legenda.
Vou a uma locadora essa semana alugar o filme. Esse é o filme que eu não posso assistir pelo meio. 50% são pouco para tanta beleza, quando se tem saudades...


Tania

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