Meu cantinho

Criei um cantinho para postar os meus primeiros vôos, na inebriante tarefa que é escrever. Aqui tem os meus pensamentos, as minhas revoltas, e tudo o que vai pelo peito de uma mulher que é uma eterna apaixonada.
Coisas de mulher com alma sonhadora.
Mas sem pretensão de ser escritora.
Beijos e beijos

Tania

segunda-feira, 13 de abril de 2009

- Retrato 3x4 para uma identidade




Retrato 3 X 4 para uma Identidade

Carteira de Identidade é um documento que nunca nos abandona, diferente de outros documentos que tiramos pela vida a fora, Pis/Pasep, CPF, Título de Eleitor, Carteira de Formação do Nível Superior, Passaporte, Cartão da Conta Corrente, das diversas lojas de descontos, e os famigerados Cartões de Créditos, que é melhor não estar à mão, às vezes.

Sempre que você precisa usar um desses documentos, transformados em cartões, só é possível se você estiver à mão a bendita Carteira de Identidade, que deve ser renovada a cada 10 anos por perder a validade, o que é uma invenção da vida moderna. Lembro que meus pais possuíam uma única Carteira de Identidade, durante a vida toda. Antiga, amassada, modelo que já nem existia mais, o retrato já estava amarelado, por ser em preto e branco e assim mesmo era usável.

Hoje, se você possui uma identidade antiga, qualquer banco, ou para inscrição de concurso, ou mesmo nos aeroportos já rejeitam, está fora da validade.

A cada 10 anos você tem que perder um bom tempo em um Instituto de Identificação para dizer que continua viva, que sua digital não mudou, mas a sua letra sim, e o seu retrato mudou demais.

Entrei a semana com esse problema. Mudar o R.G. Eu que tinha horror ao retrato da minha, e a ter que assinar o meu nome inteiro, o que nunca faço por ser grande demais, teria que dispor de tempo, criar tempo para a árdua e penosa tarefa.

Meu marido faz parte da COGERP, ou seja, é um dos Peritos Criminalísticos da Sec. de Segurança, eu não iria enfrentar fila, não ia esperar sentada para ser atendida, mas mesmo assim protelei o quanto pude. Eu tinha horror de ter que mostrar a Identidade, preferia por vezes lançar mão da Habilitação, ou do Crachá de funcionária da Prefeitura, ou da Assembléia.

Mas tomei coragem e fui tirar retrato 3x4, pois os que eu tinha estavam vencidos como dizem. Entrei em um estúdio de fotografia, dos muitos que têm na continuação da Rua de Capela, no Parque Teófilo Dantas, onde as fotos são entregues na hora e são bem mais baratas.

Havia um rapaz sentado, frente a um Computador e perguntei se tirava retrato 3x4, ele me respondeu que sim. Insistentemente perguntei: Mas faz mágica, para a gente ficar mais jovem? Mais bonita? Ele sorriu e abriu o tal do Programa Photoshop e disse:

-Vamos lá, tentar.

Pensei, comigo mesmo, eis a chance de ficar nova e bonita em uma Carteira de Identidade. Olhei-me em um espelho que ele me indicou, a maquiagem já havia derretido devido ao terrível calor, mas o que fazer? Somente passei a mão pelo cabelo, tentando arrumar um pouco e vamos lá à bendita foto 3x4, que me lembra os antigos santinhos distribuídos nas missas de 7º dia, onde a família sofrida, chorosa não se preocupava com a aparência do finado na foto. Apenas o identificavam para que lembrasse o rosto do morto.

Fiquei alguns segundos parada, esperando o rapaz trocar o chip da máquina digital e como tenho pensamento rápido, pensei: vou tirar um retrato alegre, sorrindo, aproveitar a minha blusa vermelha. E, assim foi.

Minutos depois, lá estava eu no Computador em três poses diferentes, sorrindo, de bem com a vida, que é como eu me proponho estar sempre, de um tempo pra cá. O rapaz começou com a sua mágica, cabelo não ficava desalinhado, marcas de expressão na testa, nas maças do rosto, no pescoço, nada mais existia.

Fique olhando perplexa. De repente não era mais eu quem estava na tela do computador. Era uma Barbi, que nunca envelhece, ou uma Global, que pessoalmente assusta pela diferença. Era realmente uma mágica, mas me assustava.

Ali, naquela tela, eu havia perdido a minha identidade. Onde estavam nos meus olhos, as marcas de lágrimas derramadas, os vincos da minha testa, provocados por angústias e por alegrias, a grande prega nas maças, fruto dos sorrisos. Por que tirar o que o tempo modelou, que são conseqüências de horas felizes, de muito amor, de horas tristes de dor, desamor, apreensão e outras coisas que a vida nos traz.

Eu timidamente disse ao rapaz: Não, não precisa tanto, senão eles não vão aceitar, assim fica bonita demais.

Mas não era isso. Eu não conseguia era me achar.

Sou vaidosa, brigo contra a idade, não passo sem uma boa maquiagem, mas ali eu havia descoberto que tudo isso dentro do que é meu. Do hoje, do agora. O passado tem que ser só passado, senão, não tem sentido se ter saudades. Eu já fui jovem, bonita, já vivi tudo isso, hoje meus valores têm que ser outros e meu rosto tem que ser meu, atual, não o que passou o que é passado, o que era inocente, irresponsável, sonhadora, que amava demais e chorava demais.

Não quero Photoshop em minhas fotos, não quero cirurgia plástica no meu rosto, quero viver o meu momento, onde sigo aprendendo que a minha vida é o agora, o hoje, o instante que vivo.

Só preciso de um bom fotógrafo que consiga capturar o brilho que ainda existe em mim. E foi isso que eu consegui na minha foto. Alguém que mostrou que estou de bem com a vida, agora, hoje, neste instante.

Então eu finalmente estou com uma nova Carteira de Identidade apresentável, atual, com uma foto que sorri para a vida.

Não vou mais escondê-la.

Afinal, quem é bela e pretensiosa envelhece, cria rugas, marcas de expressão, mas não fica feia.

Com certeza não vira bruxa... kakaka


Um comentário:

  1. Muito interessanre o seu post!!
    E que coincidência! Eu também moro em Aracaju e trabalho "tirando" identidade das pessoas no CEAC Riomar. Sempre vem alguém (geralmente as mulheres) e me pergunta: "Moço, na foto da identidade eu posso estar sorrindo?"
    Eu sempre respondo que sim, que fica mais bonita!
    Parabéns pela nova identidade!

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